Exame de Avaliação da Formação Médica do MEC não deve ser confundido com Exame de Proficiência

 Exame de Avaliação da Formação Médica do MEC não deve ser confundido com Exame de Proficiência

Fonte: Medicina S/A
Foto: Reprodução/Medicina S/A

Por Antonio José Gonçalves

O Ministério da Educação (MEC) anunciou o lançamento do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), prova que tem como objetivo avaliar a qualidade dos cursos de Medicina oferecidos no Brasil e o desempenho de seus respectivos estudantes.

A expectativa é de que a avaliação já seja aplicada em outubro deste ano, com os resultados divulgados a partir de dezembro. A prova será realizada anualmente e contará com 100 questões objetivas de múltipla escolha focadas em diferentes áreas da Medicina.

O lançamento do Exame Nacional de Avaliação de Formação Médica não deve ser confundido com o Exame Nacional de Proficiência Médica, atualmente em tramitação no Senado.

O exame, defendido pela APM e pelas entidades médicas mais importantes do País, vai complementar o Enamed. Destacamos que o Exame de Proficiência, chamado de “OAB para Médicos” deve continuar sendo discutido no Senado e sabemos que atualmente os cursos estão muito deficientes, devido à abertura indiscriminada de vagas em Medicina. A avaliação anunciada pelo MEC é restrita às escolas médicas abertas e não influi diretamente na proteção da população brasileira. Já a prova de proficiência pode assegurar que apenas os profissionais que demonstrem o domínio mínimo das competências exigidas pela Diretrizes Curriculares Nacionais estejam habilitados a exercer a Medicina.

O exame de proficiência é uma medida pública e de interesse social já aplicada em países como Austrália, Canadá e Reino Unido. O objetivo da ação não é punir os estudantes, mas sim, garantir que a população não fique desassistida e nem seja atendida por um profissional sem as aptidões necessárias.

Atualmente, há mais de 400 escolas médicas espalhadas pelo País, a segunda maior quantidade do mundo — só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior que a brasileira.

Somente nos últimos dez anos, foram colocados em funcionamento 190 estabelecimentos de ensino médico, número igual ao de escolas abertas ao longo de dois séculos. A imensa maioria das novas faculdades não atende a critérios básicos para a formação do aluno, como a existência de leitos do SUS para a prática médica, programa de residência, hospital de ensino e corpo docente qualificado —já que não há o tempo necessário para a qualificação, levando em conta que, ao todo, a formação em medicina, englobando graduação, residência e especialização (mestrado ou doutorado), costuma levar entre 10 e 12 anos, em média.

A abertura de inúmeros cursos é irresponsável, pois formam-se aproximadamente 40 mil jovens todos os anos e só há vagas para 20 mil residentes. Neste cenário, muitos formandos nem buscam fazer residência, seja pela alta concorrência, baixa remuneração ou necessidade de pagar o financiamento estudantil ao término do curso, levando-os a começar a trabalhar rapidamente para quitar suas dívidas —em vez de aprimorar seus conhecimentos.

Em meio a circunstâncias tão graves, a melhor forma de minimizar suas consequências seria aplicar um exame de proficiência obrigatório para egressos das escolas de medicina, nos moldes do realizado para futuros advogados. O Exame Nacional de Proficiência em Medicina visa balizar o conhecimento adquirido pelo médico durante a graduação.

O projeto de lei foi criado para garantir que os atendimentos médicos continuem sendo feitos com qualidade, visto que o número de profissionais formados está cada vez maior e a qualidade do ensino, questionável. A Associação Paulista de Medicina (APM) defende capacitar os estudantes e acompanhar a qualidade da formação médica, que, nos últimos anos, vive uma grave crise.


*Antonio José Gonçalves é Presidente da Associação Paulista de Medicina (APM).

Fonte: https://medicinasa.com.br/enamed-mec/