Tratamento adequado e falta de vagas em escolas são os principais desafios de autistas em João Pessoa, revela psicóloga

Tratamento adequado e falta de vagas em escolas são os principais desafios de autistas em João Pessoa, revela psicóloga

Fonte: ClickPB
Por Lucilene Meireles
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Foto: Reprodução/ClickPB

O tratamento adequado e a falta de vagas em escolas são os principais desafios de autistas em João Pessoa. Foi o que afirmou a psicóloga e assessora técnica da Funad, Alice Santos, nesta segunda-feira (1º), durante o programa Arapuan Verdade, como acompanhou o ClickPB. Abril é o mês de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, entre os assuntos, ela comentou ainda sobre o acesso de pessoas com TEA à educação, à saúde e elencou os benefícios do canabidiol no tratamento de autistas.

“O TEA é um tema transversal. Falamos muito na inclusão do autistas na escola, mas não podemos esquecer do acesso aos serviços de saúde. Hoje a Funad é a grande referência no atendimento às pessoas autistas no estado. Não somos o único ponto da rede, mas somos o principal, considerando que a Funad tem mais de 30 anos de história e é o principal serviço do governo do estado para atendimento às pessoas autistas, oferecendo diagnóstico, reabilitação. Também é um braço muito forte da educação, uma vez que a Funad está ligada à Secretaria de Educação, colaborando não só na parte de saúde de inclusão desta pessoa seja na escola ou em qualquer âmbito da sociedade”, pontuou a psicóloga.

Ela ressaltou que o autista tem, desde 2012, todos os direitos que são garantidos às pessoas com deficiência, através da Lei Federal Berenice Piana, que considerou as pessoas autistas como pessoas com deficiência para fins de direito. Clinicamente falando, o TEA não é uma deficiência, é um transtorno, mas para fim de usufruto dos direitos, ele é considerado deficiência.

Entre os benefícios estão o atendimento prioritário, a aquisição de veículo com isenção de IPI, enfim, todo direito que é garantido à pessoa com deficiência é garantido ao autista. Em relação ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), o critério é o mesmo, é a renda per capita da família, até um quarto do salário mínimo. “Muita gente acha que é a deficiência por si só, mas não é. O BPC considera a renda”, ressaltou.

A avaliação do TEA é multidisciplinar. Uma equipe de psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos fazem toda a parte de avaliação.

“Nós ressaltamos muito o papel do psicólogo na avaliação comportamental desse indivíduo. Se o TEA é um transtorno de base comportamental, o psicólogo vai ter um papel primordial. No entanto, hoje, só um médico pode assinar um laudo médico”.

A psicóloga enfatizou que, para a maioria dos direitos, vai ser necessário um laudo médico. Muitas vezes, a mãe tem o relatório do psicólogo, mas não tem o diagnóstico médico e ele é exigido.

A Funad atende hoje cerca de 700 pessoas com TEA em todas as áreas, com psicólogos, fonoaudiólogos, serviços de esportes, de artes, musicoterapia. A Funad foi o primeiro serviço do estado a ter uma musicoterapeuta habilitada para tal.

Na Fundação, são ofertados diagnóstico, reabilitação. Também há emissão da carteira de passe livre para a pessoa autista. A Funad também encaminha o autista e o deficiente para o mercado de trabalho. Além disso, realiza cursos para professores e cuidadores.

Alice Santos ressaltou que a abordagem da Funad é integrada e foi pensando nisso que a Fundação preparou uma programação alusiva à pessoa autista que começa nesta terça-feira.

A Funad vai realizar um seminário juntando diversos profissionais da rede, ou seja, todos os serviços do estado terão um profissional participando. Diversos profissionais da Funad vão ministrar palestras sobre o tema.

“Eu vou falar sobre o modelo de atenção integral à saúde do autista. Teremos terapeuta ocupacional, médico falando sobre processamento sensorial que é uma questão muito presente no autismo, teremos mesa de debate. A programação vai discutir as experiências que a Funad tem no atendimento e socializar o conhecimento”.

Conforme a psicóloga, é preciso observar possíveis atrasos nos marcos do desenvolvimento. Na carteira de vacinação a partir de 2022 , há uma escala de rastreio, não é de diagnóstico, mas é uma escala que vai ajudar aos profissionais do postinho de saúde a avaliar a criança e identificar se ela está cumprindo os marcos previstos para aquela idade como, por exemplo, demora para sustentar o pescoço ou para sentar.

Ela também destacou que nem toda criança ou indivíduo autista vai andar na ponta do pé, mas pode apresentar esse sinal. E nem toda criança que anda na ponta do pé é autista.

“Existem dois critérios: o comprometimento na interação, na comunicação social em múltiplos contextos, é um comprometimento persistente. É diferente de timidez. O segundo são os padrões de comportamento repetitivo, padrões de interesse e atividades sempre nos mesmos objetos. É importante conduzir a criança à atenção básica e o profissional de saúde fazer a avaliação. Nem sempre colocar um carrinho atrás do outro é sinal de autismo, afinal, os carros andam enfileirados”.

Também não é incomum ter o TEA associado a altas habilidades e superdotação. Existem ainda algumas comorbidades associadas ao autismo: autistas que têm deficiência intelectual, que têm TDAH e autistas que têm altas habilidades e superdotação. São autistas de nível de suporte 1, ou seja, precisam de pouco suporte. Alguns podem ter mais interesse em programação de internet, jogos, literatura. Esse interesse varia. O nível 3 é o mais severo.

A psicóloga Alice Santos observa que existem poucas explicações da ciência sobre o que causa o TEA, mas uma das correntes fala sobre a poda neural que é a perda de neurônios em determinada fase do desenvolvimento, ou da super produção neuronal, e aí pode ocorre do autismo regressivo.

“Por exemplo, a criança que tem um desenvolvimento dito normal, padrão até certa idade e, de repente, para de falar, começa a regredir ou ao contrário, crianças que vinham numa série de prejuízos e, de repente, era só um atraso do desenvolvimento. Isso faz sentido sim”.

Ela também frisou que o capacitismo ainda é muito forte. “Temos muitos relatos de mães que ouviram dos professores, de escolas privadas, inclusive, para não levar o filho porque não havia ninguém para cuidar. Ou um caso muito clássico: a mãe liga e pergunta se tem vaga, a escola diz que sim, mas quando informa que o filho é autista, a vaga desaparece. Casos, inclusive, que as mães judicializam, buscam a promotoria, a vara de Justiça para poder tomar alguma medida porque é crime. A Lei Berenice Piana prevê punição de multa para o gestor que negar a matrícula de até três salários mínimos”, alertou.

Para autistas com nível 3, o mais severo, é indicado o uso do canabidiol, principalmente em caso de autistas que têm deficiência intelectual associada ou têm outras comorbidades como epilepsia.

“Temos relatos de mãe cujo filho tinha 20 crises epilépticas por dia e hoje, com o uso do canabidiol, reduziu para duas ou três. Ou autistas de nível de suporte 3, por exemplo, que têm muita questão sensorial. O óleo de cannabis é um tratamento muito eficaz, mas que infelizmente ainda é cheio de preconceitos porque as pessoas associam ao uso recreativo da maconha e não tem nada a ver uma coisa com a outra. A sociedade ainda tem esse preconceito, mas é um excelente tratamento”.

Sobre o aumento do número de casos, ela afirmou que hoje há um avanço do processo diagnóstico. “Estamos num processo, atualmente, de medicalização e de diagnóstico excessivo de qualquer comportamento atípico. Hoje, dentro da escola, o aluno inquieto é autista, e não há problema do professor encaminhar ele para tirar a dúvida. Hoje o grande problema é quando tudo vira diagnóstico. O diagnóstico evoluiu, mas também há excesso de diagnóstico”, completou.

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Fonte: https://www.clickpb.com.br/paraiba/tratamento-adequado-e-falta-de-vagas-em-escolas-sao-os-principais-desafios-de-autistas-em-joao-pessoa-revela-psicologa.html