Impressão 3D, 'GPS do cérebro': separação de siamesas unidas pela cabeça incentiva avanços médicos

Impressão 3D, 'GPS do cérebro': separação de siamesas unidas pela cabeça incentiva avanços médicos

Iniciativa de equipe multidisciplinar do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto se tornou referência para grupos médicos que atuam em cirurgias infantis de alta complexidade.

 
Por Rodolfo Tiengo, G1 Ribeirão e Franca - 18/06/2018 06h58 
 
Novos protótipos desenvolvidos por equipe do HC para separação de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (Foto: Rodolfo Tiengo)
Novos protótipos desenvolvidos por equipe do HC para separação de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto (Foto: Rodolfo Tiengo)
 
Um dos maiores centros de medicina do país, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) tem atraído a atenção da comunidade médica ao se debruçar sobre um procedimento inédito no Brasil: a separação de duas irmãs gêmeas que nasceram unidas pela cabeça.
 
Um trabalho ainda em andamento - duas das cinco etapas foram realizadas até agora - que conjuga décadas de inovações científicas na mesa de cirurgia, de moldes feitos por meio de impressão 3D à utilização de neurotransmissores que funcionam como um "GPS" do cérebro, e promete deixar contribuições para diferentes áreas, seja na adequação de procedimentos de alta complexidade, seja no conhecimento gerado a ser transmitido para novos alunos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP).
 
"O legado de todo esse envolvimento é muito grande do ponto de vista local, quer dizer, a compreensão de que nós temos competência pra fazer procedimentos extremamente complexos e com sucesso até agora. Uma outra coisa é que essa multidisciplinaridade, toda essa complexidade, tem uma repercussão acadêmica também", afirma Hélio Machado, chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica do HC, à frente do time de especialistas que tem conduzido os trabalhos com as gêmeas.
 
Busto de Hipócrates, conhecido como o Pai da Medicina, em frente ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) (Foto: Rodolfo Tiengo/G1)
Busto de Hipócrates, conhecido como o Pai da Medicina, em frente ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) (Foto: Rodolfo Tiengo/G1
 
O caso chegou ao conhecimento do Hospital das Clínicas por intermédio do neurocirurgião Eduardo Jucá, responsável pelo acompanhamento das irmãs no Ceará. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e especializou-se em neurocirurgia pediátrica.

Ele tomou conhecimento do caso das irmãs pouco tempo após o nascimento delas, quando as duas foram encaminhadas ao hospital onde ele atua como coordenador. Devido à complexidade, entrou em contato com a equipe do HC para articular as avaliações.

Até agora, duas etapas foram realizadas, a última delas em 19 de maio, e foram concentradas na desvinculação de veias que unem as duas cabeças, o que ainda deve ser estender para a terceira fase, prevista para 4 de agosto. As meninas responderam bem à cirurgia e os pais estão otimistas com o processo de separação.

A quarta etapa, que até então seria a última, será integralmente dedicada a expandir a área de cobertura da pele no crânio das crianças, hoje com 1 ano e dez meses, e garantir que elas tenham tecidos próprios suficientes para a finalização dos trabalhos mais adiante.