Existe transmissão de doenças neurodegenerativas por transfusão de sangue?

Existe transmissão de doenças neurodegenerativas por transfusão de sangue?

A agregação de proteínas deformadas no cérebro ocorre em várias desordens neurodegenerativas. A agregação da proteína aberrante, por inoculação intracerebral, pode ser induzida em roedores e primatas. A transmissão de doenças neurodegenerativas por transfusão sanguínea tem importantes implicações na saúde pública, por isso, com o objetivo de investigar a possibilidade de transmissão de doenças neurodegenerativas através de transfusão sanguínea foi realizado um estudo, publicado pelo periódico Annals of Internal Medicine.

O estudo de coorte retrospectivo avaliou os registros de transfusões sanguíneas, na Suécia e na Dinamarca, e incluiu dados de 1.465.845 pacientes que receberam transfusões entre 1968 e 2012. Modelos de regressão multivariada de Cox foram usados para estimar as taxas de risco para qualquer tipo de demência, doença de Alzheimer e doença de Parkinson em pacientes que receberam transfusões de sangue de doadores que foram posteriormente diagnosticados com qualquer uma destas doenças contra os pacientes que receberam sangue de doadores saudáveis. Também foi investigado se o excesso de ocorrência de doença neurodegenerativa ocorreu entre os receptores de sangue a partir de um subconjunto dos doadores. Como um controle positivo, a transmissão de hepatite crônica, antes e após aplicação de rastreio do vírus da hepatite C, foi avaliada.

Entre os pacientes incluídos, 2,9% receberam uma transfusão de um doador com diagnóstico de uma das doenças neurodegenerativas estudadas. Não houve evidência de transmissão de qualquer uma destas doenças, independentemente da abordagem. A taxa de risco para demência em receptores de sangue de doadores com demência contra receptores de sangue de doadores saudáveis foi de 1,04 (IC 95%, 0,99-1,09). As estimativas correspondentes para a doença de Alzheimer e doença de Parkinson foram de 0,99 (IC 95% de 0,85-1,15) e 0,94 (IC 95% de 0,78-1,14), respectivamente. A transmissão da hepatite foi detectada antes, mas não após a implementação do rastreamento do vírus da hepatite C.

Concluiu-se que os dados não proporcionam evidências sobre a transmissão de doenças neurodegenerativas por transfusão sanguínea e sugerem que, se esta transmissão ocorre, ela é rara.