Cirurgia pioneira de tórax já é realizada em Natal

Cirurgia pioneira de tórax já é realizada em Natal
Cirurgia pioneira de tórax já é realizada em Natal
Um dos grandes sonhos de José Erildo,  de 15 anos, é voltar às piscinas. O desejo que soa simples para muitos foi tolhido depois que uma deformidade no tórax, a pectus excavatum, o fez desistir das aulas de natação e se isolar, por vergonha e dificuldades cardiorrespiratórias. Mas a volta ao esporte está próxima. O jovem é o primeiro paciente cirurgiado no Rio Grande do Norte pela técnica de videotoracoscopia com barra de Nuss. A falha, mais conhecida como “peito de sapateiro”, se caracteriza  por uma depressão no osso esterno e costelas na frente do tórax. Um afundamento que causa graves problemas com a compressão de órgãos, como coração e pulmão, além de afetar a qualidade de vida de pacientes. 
 
A cirurgia minimamente invasiva assistida por vídeo foi realizada em Natal, pela primeira vez, na tarde da última sexta-feira, dia 6.  Os cirurgiões Carlos Alberto Araújo, professor do Departamento de Medicina da UFRN, e José Ribas Campos, professor da Escola de Medicina da USP e pioneiro desta técnica no Brasil, levaram cerca de 2 horas para corrigir a deformação por meio de introdução de uma barra metálica (liga de aço e níquel), que inverte a cavidade e “infla” o peito.
 
O novo método mantém a mesma eficiência de uma operação torácica aberta - considerada uma das cirurgias  mais dolorosas para o paciente, por precisar intervenção em costelas, ossos e tecidos -,  mas se sobressai pela vantagem de reduzir traumas, dor e cicatrizes, além do tempo e o custo de permanência em hospital conferindo recuperação mais eficaz.
 
Por meio de um corte lateral, a haste metálica (barra de Nuss) é introduzida sem  a necessidade de abrir o peito do paciente e depois posicionada para inverter o achatamento. Toda a cirurgia é conduzida por microcâmaras que projetam a imagem em alta resolução (20 vezes superior ao visto pelo olho humano) em uma tela, por onde os médicos se orientam. Não há contato do profissional com os órgãos do paciente. 
 
“É um procedimento seguro, mais rápido e com um ganho maior para o paciente que sofre menos dores e traumas e pode sair em menor tempo, reduzindo riscos de infecção e complicações”, explica o médico Carlos Araújo. 
 
As causas da doença ainda não são esclarecidas, mas geralmente o defeito se manifesta ao nascer. De acordo com estimativas da OMS, um a cada 700 nascidos vivos podem apresentar a deformidade, que se acentua na adolescência, fase onde questões estéticas tomam maior proporção. 
 
O especialista em cirurgia do tórax,  José Ribas Campos, chama atenção para a falta de informação, causa de diagnóstico tardio e indicação de tratamentos equivocados. Ainda é comum familiares e planos de saúde minimizarem o impacto da deformidade ao fator estético, sem avaliar  os efeitos “devastadores” na socialização e emocional do paciente.
 
“Existe desconhecimento, inclusive entre médicos. A desinformação relega  pacientes a uma situação de páreas da sociedade,  causando isolamento e problemas psicológicos”, avalia o cirurgião José Ribas.  O ideal é procurar médicos credenciados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica. 
 
Menos de 24 horas após a cirurgia, a professora Erinete Fernandes Medeiros, de 48 anos, mãe de José Erildo já comemorava a melhora na recuperação do filho. “A expectativa é pela alta e retorno a vida normal, voltar a escola e a natação”, revela. Esta é a segunda cirurgia de correção. Por ser portador da síndrome de Marfan (do crescimento), as hastes colocadas em 2013 quebraram e a cirurgia agora foi para retirada do material e colocação da base de Nuss. 
 
A mãe conta ela conta que o procedimento aberto, na primeira vez, foi mais demorado e a recuperação do filho mais dolorosa. “Ele mesmo pesquisou e quis fazer, tem sede de vida e de voltar ao convívio de todos”,  diz a mãe.
 
A cirurgia torácica para correção destas falhas começou a ser desenvolvida no Brasil, no Hospital das Clínicas de São Paulo, lembra Ribas, em 1995. À época, eram feitas duas cirurgias ao mês. Desde 2003, com a técnica de cirurgia de videotoracoscopia com barra de Nuss, são em média 20 cirurgias por semana. 
 
Fonte: tribunadonorte.com.br