Hospital em SP faz cirurgia pioneira de hérnia complexa com robô

Hospital em SP faz cirurgia pioneira de hérnia complexa com robô

      Maria de Lourdes Santos Brito, de 68 anos, já tinha se submetido a 10 cirurgias ao longo da vida quando seu médico disse que teria que passar por mais uma para tratar uma hérnia abdominal complexa. O problema – que ocorre quando parte do intestino “escapa” por um espaço aberto na parede muscular do abdômen – tem mais risco de acontecer justamente    com quem já passou por muitas cirurgias na região.

Até pouco tempo atrás, a única alternativa para tratar esses casos era fazer uma nova cirurgia aberta para colocar o órgão que escapou de volta no lugar e instalar uma tela para proteger a parede abdominal. Trata-se de uma cirurgia grande, que muitas vezes envolve um corte enorme no abdômen. Há risco de infecção e do surgimento de novas hérnias.

Recentemente, uma equipe do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, fez pela primeira vez no Brasil uma cirurgia de hérnia complexa com uso de robô. A técnica é muito menos invasiva: em vez de um corte que percorre o abdômen todo, são necessários apenas cinco minúsculos orifícios. Por isso, a recuperação é mais rápida e os riscos de infecção são menores.

“Fazendo uma cirurgia de hérnia complexa por via robótica, o paciente vai para casa em um dia. Com a outra cirurgia, eles ficam até uma semana internados, com dor e risco de infecção”, diz o cirurgião do aparelho digestivo Carlos Domene, responsável pelo procedimento. Os resultados da nova cirurgia foram descritos no Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica, que aconteceu em junho no Rio de Janeiro.

O médico cita que esse é um dos exemplos que melhor evidenciam as vantagens da cirurgia robótica. Devido à complexidade do procedimento, ele não poderia nem ser feito por laparoscopia, opção de cirurgia menos invasiva com a ajuda de câmera, pois requer uma mobilidade maior das pinças dentro do paciente, que só possível com a ajuda do robô.

A cirurgia robótica foi a alternativa apresentada a Maria de Lourdes. “Eu tinha hérnia havia 20 anos, mas nunca quis operar, pois já tinha muitas outras cirurgias”, diz. Só na região do abdômen, passou por três cesáreas, retirada de útero e ovário e uma plástica. Ela vinha acompanhando de tempos em tempos a situação da hérnia até que seu médico concluiu que não dava mais para adiar a operação.

Com a opção robótica, ela ficou só um dia no hospital. “Depois, fiquei só com alguns esparadrapos que foram tirados depois de oito dias. Hoje me sinto normal, não dá para sentir que tem uma tela por dentro do abdômen”, conta.

Robô Da Vinci

Na cirurgia com robô, um cirurgião controla os braços mecânicos que levam câmera, pinças e outros instrumentos cirúrgicos ao interior do paciente. O cirurgião fica na sala de cirurgia, sentado em um equipamento em que tem uma visão ampliada de dentro do paciente. Com a ponta dos dedos, ele controla os instrumentos que realizam a cirurgia. Uma equipe composta por outros cirurgiões e enfermeiros fica ao lado da pessoa submetida à operação.

Segundo Carlos Domene, o robô multiplica a destreza das mãos do médico. “Na cirurgia robótica, você tem um visor tridimensional full HD que permite ver tudo ampliado. Você movimenta a pinça com a ponta do dedo, refinando o movimento. A máquina não treme, aplica uma força adequada. O cirurgião usa o robô para melhorar sua performance.”

A cirurgia por robô chegou ao Brasil em 2008 e há atualmente no país 14 dispositivos capazes de realizá-la, o Sistema Cirúrgico Da Vinci.

Fonte: G1