Delirium após cirurgia cardíaca pode predizer declínio cognitivo

Delirium após cirurgia cardíaca pode predizer declínio cognitivo

“A prevenção do delirium pós-operatório pode ser uma estratégia para evitar o declínio cognitivo”, diz o pesquisador Charles Brown, da Johns Hopkins University School of Medicine, em Baltimore.

O delírio ocorre em cerca de metade de todos os pacientes após uma cirurgia cardíaca e tem sido associado a consequências no longo prazo, como declínio cognitivo e mortalidade. No entanto, o seu risco real ainda não é conhecido.

No presente estudo, apresentado no congresso Anesthesiology 2014, da American Society of Anesthesiologists (ASA), os pesquisadores utilizaram metodologia rigorosa e extensas avaliações psicométricas para determinar se o delírio após cirurgia cardíaca está associado ao declínio cognitivo.

Os participantes foram 66 pacientes que se submeteram à cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) ou cirurgia valvar envolvendo circulação extracorpórea; todos foram considerados de alto risco para lesão neurológica.

Assistentes de pesquisa treinados diagnosticaram o delirium pós-operatório utilizando o Confusion Assessment Method (CAM) ou CAM-ICU, em três dos quatro primeiros dias de pós-operatório. O CAM procura por início agudo e curso flutuante, desatenção, pensamento desorganizado e alteração do nível de consciência.

A gravidade do delírio foi determinada pela escala Delirium Rating Scale-Revised-98. Os testes psicométricos foram administrados antes da cirurgia e quatro a seis semanas após a cirurgia. Vários domínios cognitivos conhecidos por serem afetados pela cirurgia cardíaca foram avaliados com os testes Rey Auditory Verbal Learning Test, Rey-Osterrieth Complex Figure Test, Controlled Oral Word Association Test, Symbol Digits Modalities Test e o Trail Making Test, Parte B.

O desfecho primário foi a mudança no Z-score cognitivo composto a partir da linha de base. Após ajustes para idade, história de acidente vascular cerebral e tempo de circulação extracorpórea, os investigadores determinaram a associação entre o delírio e a mudança no Z-score cognitivo composto. Dos 66 pacientes atendidos, 35 (idade média de 69 anos) foram submetidos a avaliações de delírio e testes cognitivos completos no início e no acompanhamento. Acidente vascular cerebral anterior foi observado em 9,1% dos participantes. Os procedimentos cirúrgicos incluíram CRM (51%), cirurgia de válvula aórtica ou mitral (34%) e uma combinação dos dois (14%). O tempo médio de circulação extracorpórea foi de 102 minutos.

A incidência de delírio na população estudada foi de 48% e a mediana do escore de gravidade do delírio foi de 5. A mudança na média Z-score cognitivo composto foi melhor em pacientes sem delírio no pós-operatório do que naqueles com delirium pós-operatório. Os pacientes com delirium pós-operatório apresentaram um declínio em relação à linha de base.

Mesmo após os ajustes para idade, história de acidente vascular cerebral e tempo de circulação extracorpórea, a presença de delirium pós-operatório ainda foi associado à diminuição no escore Z cognitivo composto. Cada aumento no quartil de gravidade de delírio foi associado à diminuição de 0,22 no Z-score cognitivo composto (p=0,004). Delírios mais graves indicaram evidências de maior declínio cognitivo e isso foi altamente significativo nesta pesquisa.

Os investigadores reconhecem que estudos com um grupo maior de pacientes e com um período de seguimento mais longo são necessários para confirmar os resultados encontrados.

Fonte: Anesthesiology 2014, da American Society of Anesthesiologists (ASA)